É à minha avó materna que devo algumas das melhores recordações da minha infância. Lembro-me do fascínio com que a ouvia falar das suas memórias dos anos 40, de como os pais das meninas “de bem” as obrigavam a esconder-se dos soldados que por cá se encontravam por altura da Segunda Guerra Mundial, lembro-me de me ter falado pela primeira vez dos amores de Pedro e Inês, de me ter cantado A Moleirinha, de Guerra Junqueiro, que aprendera na sua escola primária, durante o Estado Novo, lembro-me de me ter ensinado as primeiras letras, através da Cartilha Maternal, de João de Deus, e do entusiasmo com que pegava na “minha” cartilha e rumava à casa dela, que morava perto de nós, num tempo em que crianças com cinco anos ainda podiam sair à rua sozinhas, pois o trânsito não era tão perigoso como o de hoje em dia.
Por vezes, pedia à minha mãe para passar lá a noite. Sabia-me tão bem ser mimada…
Na casa da avó, rezava-se o terço todas as noites e eu, como hóspede, participava no ritual. De seguida, via-se um pouco de televisão (não muita, pois no final dos anos 70, nos Açores, o único canal existente era a RTP Açores, e a emissão acabava cedo, ao som do hino dos Açores). De manhã, bebíamos o leite com cevada, que tinha que esperar pacientemente, na cafeteira de esmalte azul, até que o pó assentasse.
Lembro-me do meu avô a chegar da pesca, com o seu baldinho com peixe, e de eu saltitar à volta da minha avó, enquanto ela amanhava o peixe para fazer esta sopa, com a qual participo no desafio “Conte-me a sua receita”, promovido pelo blogue www.cincoquartosdelaranja.blogspot.com.
Ingredientes:
1 cebola grande, picada miúda
3 dentes de alho, picados miúdos
1 colher de sopa de banha
2 colheres de sopa de polpa de tomate
2 colheres de sopa de vinagre
1 colher de sopa de manteiga
Água (a terrina onde se vai servir a sopa, cheia)
4 peixes (boca-negra, dos mares dos Açores, ou outro peixe branco, de escama)
1 raminho de salsa
Pão de véspera, cortado em fatias finas
Primeiro, a minha avó cortava os peixes a meio e temperava-os com sal. Fritava-os em óleo ou banha e reservava-os.
Fazia um refogado com a banha, a cebola e o alho, até estarem douradinhos. Juntava a polpa de tomate, o vinagre e a manteiga e deixava refogar bem. Adicionava as batatas, cortadas às rodelas finas, e um rabo do peixe reservado, para dar gosto ao refogado. Acrescentava a água a ferver e deixava cozinhar, até ficar bem apurado (45 minutos, aproximadamente), e as folhinhas da salsa, ripadas.
Na hora de servir a sopa, misturava o resto do peixe reservado com o caldo.
Enchia a terrina com o pão cortado e punha por cima o caldo, com a batata e o peixe, tendo o cuidado de o peixe ficar por cima do pão (o peixe que não cabia na terrina era servido numa travessa, a acompanhar a sopa).
Agora, vou comer uma sopa de peixe e, a cada colher, fechar os olhos e acreditar que foi feita pela minha avó, com peixe fresquinho, pescado pelo meu avô.
Ilídia
Notas:
1 - A terrina da fotografia pertencia à minha avó e a toalha em crochet foi ela que fez para o meu enxoval, numa altura em que eu pouco ligava a essas coisas. Agora, não só dou importância a estes pormenores, como os exibo com orgulho.
2 – A Cartilha Maternal que aparece na fotografia é um fac-simile oferecido pelo Expresso, em 6 de Janeiro de 1996. Perguntei à minha mãe pela Cartilha da minha avó mas, infelizmente, perdemos-lhe o rasto.
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